terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sobre Deus e o dia a dia

Por: Thaisi Fernandes Macedo


“Faltou luz mas era dia, o sol invadiu a sala. Fez da TV um espelho, refletindo o que a gente esquecia, faltou luz mas era dia. O som das crianças brincando nas ruas como se fosse um quintal, a cerveja gelada na esquina como se espantasse o mal (...) Todas as cores escondidas nas nuvens da rotina pra gente ver por entre os prédios e nós. Pra gente ver o que sobrou do céu”

Vivemos condicionados ao óbvio, nossa percepção é muitas vezes encoberta pelo excesso de atividades do dia a dia.
Acordamos muito cedo, vamos dormir muito tarde e muitas vezes sentimos que por mais que alonguemos o dia, não fizemos nem metade do que precisávamos fazer. Na ânsia de atender as demandas da vida moderna, atropelamos a nós mesmos.

Até que um dia falta luz.

E quando o computador não liga, nosso trabalho se torna inviável. Com as redes sociais desligadas perdemos também boa parte da interação com amigos e familiares.
Parece que a vida não existe fora da tomada.
Mesmo que por poucos minutos, somos obrigados a olhar para nosso colega da mesa ao lado, a abrir a janela e ver como está o tempo lá fora, a estabelecer uma conversa independente do teclado.
Por poucos minutos, até que os no breaks, geradores e outras ferramentas nos conectem novamente, tudo que temos é o que está a nossa volta.
Infelizmente,  nossa tendência é perceber o extraordinário da vida e dos relacionamentos apenas quando somos forçados a isso.
Com a rotina incessante de trabalho e outras atividades, desaprendemos a olhar pro lados, a sorrir quando damos bom dia, a estreitar o relacionamento com o colega de trabalho.
Esquecemos de encontrar os amigos no final do dia, de ligar pra casa pra saber se está tudo bem (por vontade, não por obrigação), de marcar aquele almoço com o amigo de longa data que trabalha a alguns quarteirões mas que você nunca consegue ver.
Não nos lembramos de abrir a janela do escritório, de deixar a garoa tocar o rosto na volta pra casa, de conversar com o vendedor de pipoca que você encontra todo dia no ponto de ônibus.

Viver deixou de ser prioridade.

Somente quando somos obrigados a isso, por alguma situação da vida, percebemos como as pequenas coisas são importantes.
Condicionados a só enxergar beleza no que excede a rotina, esquecemos que Deus se materializa no dia a dia através de  detalhes de nossa vida, nas pequenas coisas com as quais não nos importamos.
Aí esperamos as grandes experiências de fé, esperamos as soluções que caem do céu, esperamos manifestações extraordinárias de Deus. Com nossa visão voltada para os lugares errados não enxergamos a presença de Deus onde ela está de fato: no outro.

Muito da nossa vida muda quando aprendemos a olhar pro lado.

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